Ao conhecer a Deus, conheço também a sua Vontade para mim e conhecendo-a, devo cumpri-la. Como pode existir liberdade em uma relação como essa? Como podemos dizer que Deus nos ama e nos deixa livre, se já possui uma vontade para nós? Onde está o amor? A Vontade de Deus é uma escravidão? Fazemo-la e pronto?
Permitamo-nos voltar ao primeiro anúncio, ao anúncio do Amor de Deus: Deus criou tudo com perfeição e após criar todas as coisas, “viu que tudo era bom” (cf. Gn 1). Criou em particular o homem e o dotou de liberdade. Mas este homem decidiu pecar (utilizando de sua liberdade), aceitando o convite da serpente de “ser como deuses”. Aí começou a existir a escravidão. A maior escravidão do homem é o pecado, que ele mesmo escolhe. O homem torna-se fraco, ou seja, não é mais livre o suficiente para decidir-se pelo melhor para si, mas sofre agora porque a sua liberdade está sujeita a alimentar a sua fraqueza e fazê-lo cada vez mais infeliz. É aqui, nesta condição, que Deus deseja manifestar a todo homem a sua Vontade, que não escraviza, mas, ao contrário, devolve a liberdade, aquela que ficou comprometida por causa do pecado.
A Vontade de Deus vai se revelando de forma suave e libertadora na vida daqueles que tiveram uma experiência verdadeira com Seu amor. O amor aqui não é somente um sentimento, que sem duvida é um maravilhoso impulso inicial, mas o amor toca o individuo no todo, desde o sentimento até a união das vontades.
Só se poder falar de Vontade de Deus para quem teve esta experiência, pois quando descobrimos que Deus é Amor (cf. 1 Jo 4,8), entendemos também que é próprio do amor querer o melhor para o amado. Estranho seria o amor de Deus se simplesmente nos criasse e nos deixasse entregue à força de nossas paixões. Estaríamos, assim, destinados a uma vida voltada somente para nós mesmos, sendo aquilo para o qual não fomos criados e nunca podendo nos realizar plenamente.
“A história do amor entre Deus e o homem consiste precisamente no fato de que esta comunhão de vontade cresce em comunhão de pensamento e de sentimento e, assim, o nosso querer e a vontade de Deus coincidem cada vez mais: a vontade de Deus deixa de ser para mim uma vontade estranha que me impõem de fora os mandamentos, mas é a minha própria vontade, baseada na experiência de que realmente Deus é mais íntimo a mim mesmo de quanto o seja eu próprio” (Deus caritas est, 17. Grifo nosso)
Deus, por amor, deseja fazer conhecida a Sua Vontade. Aqui, entramos no mistério da VOCAÇÃO. Quando compreendemos o amor de Deus, vemos a grandeza de sermos chamados a uma vocação. Que privilégio! Deus me chama. Agora não é mais um peso, não é uma obrigação fazer a vontade de Deus, mas nós, livremente, optamos pela nossa liberdade, e nela encontramos também a nossa felicidade.
É por isto que tantas vezes vemos o apelo dos santos que dizem: “vontade de Deus, meu paraíso”. Do Santo Padre, Bento XVI: “Deus não tira nada, dá tudo” e de outros que nos encorajam: “Se sentirdes o chamado do Senhor, não o recuseis” (João Paulo II).
Se você que lê esse artigo sente o chamado de Deus para uma vocação específica, coragem! Vale a pena optar pela eternidade já aqui na terra. Vale a pena ser feliz.
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por Franco Michel Galdino Missionário e seminarista da Comunidade de Vida Shalom