I Semana
Pregação baseada nos parágrafos 1776 a 1802 do Catecismo da Igreja Católica
A Consciência moral
“Se tivesse de brindar pela religião, o que é altamente improvável, fá-lo-ia pelo Papa. Mas em primeiro lugar pela consciência. Só depois o faria pelo Papa” (Frase acerca da consciência na carta que o Cardeal Newman dirigiu ao duque de Norfolk – Letter to Norfolk, pág. 261)
Pontos fundamentais:
A CONSCIÊNCIA E A VERDADE
1. “Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei ressoa no íntimo de seu coração... É uma lei inscrita por Deus no coração do homem. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz. "
O JUÍZO DA CONSCIÊNCIA
1. Presente no coração da pessoa, a consciência moral lhe impõe, no momento oportuno, fazer o bem e evitar o mal. Por esta razão, o homem é capaz de julgar as escolhas concretas, aprovando as boas e renunciando as más.
2. É a consciência que atesta a autoridade da verdade referente ao Bem supremo, de quem a pessoa humana recebe a atração e acolhe os mandamentos. Quando escuta a consciência moral, o homem prudente pode ouvir a Deus, que fala.
3. Em tudo o que diz e faz, o homem é obrigado a seguir fielmente o que sabe ser justo e correto. E pelo julgamento de sua consciência que o homem percebe e reconhece as prescrições da lei divina: A consciência é uma lei de nosso espírito que ultrapassa nosso espírito, nos faz imposições, significa responsabilidade e dever, temor e esperança... E a mensageira daquele que, no mundo da natureza bem como no mundo da graça, nos fala através de um véu, nos instrui e nos governa. A consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo.
4. O homem precisa estar sempre no seu interior para ouvir e seguir a voz de sua consciência. Este diálogo consigo mesmo é de fundamental importância, porque na verdade este é o diálogo do homem com Deus. Esta exigência de interioridade é muito necessária, pelo fato de a vida nos deixar freqüentemente em situações que nos afastam da verdade: Volta à tua consciência, interroga-a... Voltai, irmãos, ao interior e em tudo o que fizerdes atentai para a testemunha, Deus.
5. “A consciência — escreve S. Boaventura — é como o arauto de Deus e o seu mensageiro, e o que diz não o ordena de si própria mas como proveniente de Deus, à semelhança de um arauto quando proclama o édito do rei. E disto deriva o fato de a consciência ter a força de obrigar”.103
6. A consciência, de certo modo, põe o homem diante da lei de Deus, da vontade de Deus, dos mandamentos divinos e desta forma ela própria se torna “testemunha” para o homem da sua fidelidade ou infidelidade em relação ao que é bom, ou seja, da sua essencial retidão ou maldade moral. mas conjuntamente, e antes mesmo, é testemunho do próprio Deus, cuja voz e juízo penetram no íntimo do homem até às raízes da sua alma, chamando-o à obediência: «A consciência moral não encerra o homem dentro de uma solidão intransponível e impenetrável, mas abre-o à chamada, à voz de Deus. Nisto, e em nada mais, se encontra todo o mistério e dignidade da consciência moral: em ser o lugar, o espaço santo no qual Deus fala ao homem».104
7. A consciência além de ser testemunha ela cumpre sua função através de pensamentos que acusam ou defendem o homem em relação aos seus comportamentos (cf. Rm 2,15). O Juízo moral sobre o homem e sobre seus atos é um juízo de absolvição ou de condenação segundo os atos humanos são ou não conformes com a lei de Deus inscrita no coração. E é precisamente acerca do julgamento dos atos e, simultaneamente, do seu autor e do momento da sua definitiva atuação que fala o Apóstolo, no mesmo texto: «Como se verá no dia em que Deus julgar, por Jesus Cristo, as ações secretas dos homens, segundo o meu Evangelho» (Rm 2, 16).
8. A consciência é a única testemunha do que acontece na intimidade da pessoa. Porque o que está na intimidade fica velado aos olhos de quem vê de fora. Ela revela o seu testemunho somente à própria pessoa. E, por sua vez, só esta conhece a própria resposta à voz da consciência.
9. A dignidade da pessoa humana implica e exige a retidão da consciência moral. Isto se deve ao fato de que quando o homem deixa de usar a sua razão fere a sua dignidade.
10. A consciência moral consegue perceber os princípios da moralidade e sua vivência em circunstâncias determinadas, graças a um discernimento prático das razões e dos bens, como também faz um julgamento sobre os atos concretos que vai praticar ou que já foram praticados. “O que a lei ordena está escrito nos seus corações”(Rm 2, 15)
11. A lei da razão conhece a verdade sobre o bem moral e esta verdade é reconhecida de forma prática e concreta pelo juízo prudente da consciência. Chamamos de prudente o homem que faz suas opções de acordo com este juízo.
12. A consciência permite que o homem assuma a responsabilidade dos atos que praticou. Quando este o homem comete o mal, o julgamento justo da consciência pode continuar nele como testemunho da verdade universal do bem e ao mesmo tempo da maldade de sua escolha singular.
13. Assim a sentença dada pelo juízo da consciência continua sendo um penhor de esperança e misericórdia. Que no caso, de o homem praticar o mal, este juízo da consciência atesta para ele a falta cometida lembrando-o da necessidade de pedir perdão, de praticar novamente o bem e de cultivar sem cessar a virtude com a graça de Deus.
14. É diante do juízo da consciência, da capacidade de julgar se um ato é bom ou mau que o homem poderá tranqüilizar seu coração, se o seu coração o acusa, porque Deus é maior que nosso coração e conhece todas as coisas (1 Jo 3,19-20).
15. O homem tem o direito de agir com consciência e liberdade, a fim de tomar pessoalmente as decisões morais. "O homem não pode ser forçado a agir contra a própria consciência. Mas também não há de ser impedido de proceder segundo a consciência, sobretudo em matéria religiosa."
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1. Ler a carta de São Paulo aos Romanos
2. Esplendor da Verdade
domingo, 3 de outubro de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Vontade de Deus: escravidão?
Ao conhecer a Deus, conheço também a sua Vontade para mim e conhecendo-a, devo cumpri-la. Como pode existir liberdade em uma relação como essa? Como podemos dizer que Deus nos ama e nos deixa livre, se já possui uma vontade para nós? Onde está o amor? A Vontade de Deus é uma escravidão? Fazemo-la e pronto?
Permitamo-nos voltar ao primeiro anúncio, ao anúncio do Amor de Deus: Deus criou tudo com perfeição e após criar todas as coisas, “viu que tudo era bom” (cf. Gn 1). Criou em particular o homem e o dotou de liberdade. Mas este homem decidiu pecar (utilizando de sua liberdade), aceitando o convite da serpente de “ser como deuses”. Aí começou a existir a escravidão. A maior escravidão do homem é o pecado, que ele mesmo escolhe. O homem torna-se fraco, ou seja, não é mais livre o suficiente para decidir-se pelo melhor para si, mas sofre agora porque a sua liberdade está sujeita a alimentar a sua fraqueza e fazê-lo cada vez mais infeliz. É aqui, nesta condição, que Deus deseja manifestar a todo homem a sua Vontade, que não escraviza, mas, ao contrário, devolve a liberdade, aquela que ficou comprometida por causa do pecado.
A Vontade de Deus vai se revelando de forma suave e libertadora na vida daqueles que tiveram uma experiência verdadeira com Seu amor. O amor aqui não é somente um sentimento, que sem duvida é um maravilhoso impulso inicial, mas o amor toca o individuo no todo, desde o sentimento até a união das vontades.
Só se poder falar de Vontade de Deus para quem teve esta experiência, pois quando descobrimos que Deus é Amor (cf. 1 Jo 4,8), entendemos também que é próprio do amor querer o melhor para o amado. Estranho seria o amor de Deus se simplesmente nos criasse e nos deixasse entregue à força de nossas paixões. Estaríamos, assim, destinados a uma vida voltada somente para nós mesmos, sendo aquilo para o qual não fomos criados e nunca podendo nos realizar plenamente.
“A história do amor entre Deus e o homem consiste precisamente no fato de que esta comunhão de vontade cresce em comunhão de pensamento e de sentimento e, assim, o nosso querer e a vontade de Deus coincidem cada vez mais: a vontade de Deus deixa de ser para mim uma vontade estranha que me impõem de fora os mandamentos, mas é a minha própria vontade, baseada na experiência de que realmente Deus é mais íntimo a mim mesmo de quanto o seja eu próprio” (Deus caritas est, 17. Grifo nosso)
Deus, por amor, deseja fazer conhecida a Sua Vontade. Aqui, entramos no mistério da VOCAÇÃO. Quando compreendemos o amor de Deus, vemos a grandeza de sermos chamados a uma vocação. Que privilégio! Deus me chama. Agora não é mais um peso, não é uma obrigação fazer a vontade de Deus, mas nós, livremente, optamos pela nossa liberdade, e nela encontramos também a nossa felicidade.
É por isto que tantas vezes vemos o apelo dos santos que dizem: “vontade de Deus, meu paraíso”. Do Santo Padre, Bento XVI: “Deus não tira nada, dá tudo” e de outros que nos encorajam: “Se sentirdes o chamado do Senhor, não o recuseis” (João Paulo II).
Se você que lê esse artigo sente o chamado de Deus para uma vocação específica, coragem! Vale a pena optar pela eternidade já aqui na terra. Vale a pena ser feliz.
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por Franco Michel Galdino Missionário e seminarista da Comunidade de Vida Shalom
Permitamo-nos voltar ao primeiro anúncio, ao anúncio do Amor de Deus: Deus criou tudo com perfeição e após criar todas as coisas, “viu que tudo era bom” (cf. Gn 1). Criou em particular o homem e o dotou de liberdade. Mas este homem decidiu pecar (utilizando de sua liberdade), aceitando o convite da serpente de “ser como deuses”. Aí começou a existir a escravidão. A maior escravidão do homem é o pecado, que ele mesmo escolhe. O homem torna-se fraco, ou seja, não é mais livre o suficiente para decidir-se pelo melhor para si, mas sofre agora porque a sua liberdade está sujeita a alimentar a sua fraqueza e fazê-lo cada vez mais infeliz. É aqui, nesta condição, que Deus deseja manifestar a todo homem a sua Vontade, que não escraviza, mas, ao contrário, devolve a liberdade, aquela que ficou comprometida por causa do pecado.
A Vontade de Deus vai se revelando de forma suave e libertadora na vida daqueles que tiveram uma experiência verdadeira com Seu amor. O amor aqui não é somente um sentimento, que sem duvida é um maravilhoso impulso inicial, mas o amor toca o individuo no todo, desde o sentimento até a união das vontades.
Só se poder falar de Vontade de Deus para quem teve esta experiência, pois quando descobrimos que Deus é Amor (cf. 1 Jo 4,8), entendemos também que é próprio do amor querer o melhor para o amado. Estranho seria o amor de Deus se simplesmente nos criasse e nos deixasse entregue à força de nossas paixões. Estaríamos, assim, destinados a uma vida voltada somente para nós mesmos, sendo aquilo para o qual não fomos criados e nunca podendo nos realizar plenamente.
“A história do amor entre Deus e o homem consiste precisamente no fato de que esta comunhão de vontade cresce em comunhão de pensamento e de sentimento e, assim, o nosso querer e a vontade de Deus coincidem cada vez mais: a vontade de Deus deixa de ser para mim uma vontade estranha que me impõem de fora os mandamentos, mas é a minha própria vontade, baseada na experiência de que realmente Deus é mais íntimo a mim mesmo de quanto o seja eu próprio” (Deus caritas est, 17. Grifo nosso)
Deus, por amor, deseja fazer conhecida a Sua Vontade. Aqui, entramos no mistério da VOCAÇÃO. Quando compreendemos o amor de Deus, vemos a grandeza de sermos chamados a uma vocação. Que privilégio! Deus me chama. Agora não é mais um peso, não é uma obrigação fazer a vontade de Deus, mas nós, livremente, optamos pela nossa liberdade, e nela encontramos também a nossa felicidade.
É por isto que tantas vezes vemos o apelo dos santos que dizem: “vontade de Deus, meu paraíso”. Do Santo Padre, Bento XVI: “Deus não tira nada, dá tudo” e de outros que nos encorajam: “Se sentirdes o chamado do Senhor, não o recuseis” (João Paulo II).
Se você que lê esse artigo sente o chamado de Deus para uma vocação específica, coragem! Vale a pena optar pela eternidade já aqui na terra. Vale a pena ser feliz.
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por Franco Michel Galdino Missionário e seminarista da Comunidade de Vida Shalom
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Namoro, relacionamento a três
Atualmente tem sido muito comum encontrar jovens feridos, insatisfeitos e até decepcionados com o namoro. Que razão pode haver para tanto descontentamento? Será que o amor verdadeiro é uma ilusão?
Na verdade, de uma forma sorrateira, a mentalidade hedonista – da busca do prazer pelo simples prazer – do mundo de hoje tem privado a muitos de conhecer e experimentar a beleza do autêntico amor humano, dom de Deus. Tem feito especialmente nossos jovens chamarem de amor o que não passa de uma frágil atração física. Tem nos ensinado que homem e mulher precisam constantemente medir forças, que temos de tirar algum proveito do outro e mais algumas aberrações... O grande problema é que esse tipo de relacionamento está muito longe do que Deus pensa sobre o namoro e é definitivamente incapaz de satisfazer a alma humana.
Diante disso, queremos lançar sobre esses jovens um olhar de esperança e dizer: é possível hoje viver um verdadeiro amor! Para isso, olhemos, a partir de agora, o namoro com os olhos do Espírito Santo e peçamos a Ele que arranque qualquer vestígio da mentalidade do mundo que ainda possa haver em nós.
Para começar, tenhamos em mente que, se quisermos usufruir as bênçãos e colher bons frutos de um relacionamento, não podemos queimar etapas. A amizade é necessariamente o primeiro passo. Estreitar os laços, conhecer os pensamentos, os valores, as virtudes e também as fraquezas um do outro. Nunca se contentar com as aparências, mas mergulhar na simples verdade do outro. Essa é uma fase muito gratificante, porque temos a oportunidade de descobrir as grandes riquezas do outro e de lhe revelar as nossas. Vale lembrar que é também um tempo propício ao autoconhecimento, imprescindível a qualquer tipo de relacionamento. É a partir daí que o sentimento começa a tomar forma, a amadurecer. Só então a nossa razão, agora livre de paixões enganadoras, poderá ser capaz de enxergar o que realmente sentimos um pelo outro e de fazer uma opção sensata.
E aí? Estamos prontos para namorar? Calma, ainda falta algo indispensável: conhecer a vontade de Deus. É preciso que os dois estejam atentos à sua Santa Vontade e que haja sempre uma partilha sincera de suas orações. O namoro deve estar sempre embasado no Senhor, caso contrário, será algo desordenado, uma busca de ambas as partes de se satisfazerem da maneira mais egoísta: de serem amados e não de amarem (a ordem dos fatores, neste caso, altera o produto); não existirá lugar para a gratuidade, para as delicadezas e para a feliz renúncia em favor do outro. Sendo assim, podemos concluir sem medo: todo namoro deve ser um relacionamento a três. De um lado, o rapaz, com seu jeito próprio de ser se derrama em amor para com a moça. Por sua vez, a moça, com a delicadeza que lhe é peculiar, busca amar o rapaz como ele é. No centro, Aquele que é a fonte de todo amor: Deus!!!
Agora que estamos aptos para um novo tipo de relacionamento, que tal consagrá-lo a Nossa Senhora? Ela será uma ajuda necessária nos desafios do dia-a-dia. Ninguém melhor que a Mãe de Jesus para nos ensinar a viver a castidade, a dar sem esperar recompensa e a perder para que o outro ganhe. Que mulher admirável recebemos como mãe e que cuidado ela tem pelos que se lhe confiam!
Por fim, recordemos sempre que não há maior amor do que dar a vida por quem se ama. Não é isso que Jesus nos ensina?!
Estamos tendo agora, não só o prazer de escrever sobre um tema tão belo para nós e Deus, mas também a alegria de, nas nossas vidas, testemunhar isto. Passamos por cada fase, vivendo cada etapa, vencendo cada desafio. Hoje, ao olharmos para trás, comprovamos a beleza de viver o tempo de Deus para cada coisa. Pondo este mesmo olhar no presente, testemunhamos a vitória do amor humano elevado à caridade de Cristo nas nossas vidas. E no futuro? Bem, o futuro a Deus pertence, mas com certeza ansiamos um dia estarmos diante do altar selando este tão belo amor que teve início numa amizade...
Fonte: Arquivo Shalom
Na verdade, de uma forma sorrateira, a mentalidade hedonista – da busca do prazer pelo simples prazer – do mundo de hoje tem privado a muitos de conhecer e experimentar a beleza do autêntico amor humano, dom de Deus. Tem feito especialmente nossos jovens chamarem de amor o que não passa de uma frágil atração física. Tem nos ensinado que homem e mulher precisam constantemente medir forças, que temos de tirar algum proveito do outro e mais algumas aberrações... O grande problema é que esse tipo de relacionamento está muito longe do que Deus pensa sobre o namoro e é definitivamente incapaz de satisfazer a alma humana.
Diante disso, queremos lançar sobre esses jovens um olhar de esperança e dizer: é possível hoje viver um verdadeiro amor! Para isso, olhemos, a partir de agora, o namoro com os olhos do Espírito Santo e peçamos a Ele que arranque qualquer vestígio da mentalidade do mundo que ainda possa haver em nós.
Para começar, tenhamos em mente que, se quisermos usufruir as bênçãos e colher bons frutos de um relacionamento, não podemos queimar etapas. A amizade é necessariamente o primeiro passo. Estreitar os laços, conhecer os pensamentos, os valores, as virtudes e também as fraquezas um do outro. Nunca se contentar com as aparências, mas mergulhar na simples verdade do outro. Essa é uma fase muito gratificante, porque temos a oportunidade de descobrir as grandes riquezas do outro e de lhe revelar as nossas. Vale lembrar que é também um tempo propício ao autoconhecimento, imprescindível a qualquer tipo de relacionamento. É a partir daí que o sentimento começa a tomar forma, a amadurecer. Só então a nossa razão, agora livre de paixões enganadoras, poderá ser capaz de enxergar o que realmente sentimos um pelo outro e de fazer uma opção sensata.
E aí? Estamos prontos para namorar? Calma, ainda falta algo indispensável: conhecer a vontade de Deus. É preciso que os dois estejam atentos à sua Santa Vontade e que haja sempre uma partilha sincera de suas orações. O namoro deve estar sempre embasado no Senhor, caso contrário, será algo desordenado, uma busca de ambas as partes de se satisfazerem da maneira mais egoísta: de serem amados e não de amarem (a ordem dos fatores, neste caso, altera o produto); não existirá lugar para a gratuidade, para as delicadezas e para a feliz renúncia em favor do outro. Sendo assim, podemos concluir sem medo: todo namoro deve ser um relacionamento a três. De um lado, o rapaz, com seu jeito próprio de ser se derrama em amor para com a moça. Por sua vez, a moça, com a delicadeza que lhe é peculiar, busca amar o rapaz como ele é. No centro, Aquele que é a fonte de todo amor: Deus!!!
Agora que estamos aptos para um novo tipo de relacionamento, que tal consagrá-lo a Nossa Senhora? Ela será uma ajuda necessária nos desafios do dia-a-dia. Ninguém melhor que a Mãe de Jesus para nos ensinar a viver a castidade, a dar sem esperar recompensa e a perder para que o outro ganhe. Que mulher admirável recebemos como mãe e que cuidado ela tem pelos que se lhe confiam!
Por fim, recordemos sempre que não há maior amor do que dar a vida por quem se ama. Não é isso que Jesus nos ensina?!
Estamos tendo agora, não só o prazer de escrever sobre um tema tão belo para nós e Deus, mas também a alegria de, nas nossas vidas, testemunhar isto. Passamos por cada fase, vivendo cada etapa, vencendo cada desafio. Hoje, ao olharmos para trás, comprovamos a beleza de viver o tempo de Deus para cada coisa. Pondo este mesmo olhar no presente, testemunhamos a vitória do amor humano elevado à caridade de Cristo nas nossas vidas. E no futuro? Bem, o futuro a Deus pertence, mas com certeza ansiamos um dia estarmos diante do altar selando este tão belo amor que teve início numa amizade...
Fonte: Arquivo Shalom
JÁ SEI NAMORAR???
Vamos brincar de namorar? Sim? Então, comecemos: no salgadinho que você acabou de comprar há duas cartelinhas: uma para as meninas, de cor rosa, e uma para os meninos, de azul. Na sua, a cantada fatal: "Quero você"! Para efetivar a paquera, eu tenho de raspar uma das três opções: "Eu também!", "Agora" ou "Longe!". Minha vez! Na minha cantada está escrito muito singelamente: "Beijo". Você, em continuidade, raspa uma das três opções: "Na boche-cha", "Na boca" ou "Nem pensar!". Dependendo de como as coisas vão rolar, pinta um "fica" e cada um vai para o seu canto depois, sem entrosamento nem conversa fiada! E, então, até à próxima compra...
A brincadeira acima pode ser encontrada em certo pacote de salgadinhos disponível em supermercados, ali, logo ao alcance da mão. São duas pequenas cartelas que ensinam o de-senrolar da cantada apenas com uma raspadinha. Comprando, raspando, ficando! Simples as-sim! Cabe a você raspar no lugar certo (quem sabe uma boate, uma festinha de colegial, um cinema...), no momento certo e com a pessoa certa. E, pronto, aprendi a ficar no melhor método "passo a passo", sem nenhuma contra-indicação, sem nenhuma conseqüência desagradável, nada além de azaração. Como todo mundo já sabe namorar, as receitas já vêm prontas e aca-badas, no ponto de experimentar, sem a perspectiva de um mínimo vínculo afetivo, sem a opor-tunidade da autodescoberta e da descoberta do outro em sua imensa riqueza e carisma, de sua integridade e personalidade. A “ficada” de hoje cada vez mais se aparta dos verdadeiros senti-mentos e emoções e se aproxima da frieza das carícias, com o fim único de dar e receber pra-zer. Como se, necessidades sensoriais satisfeitas, não houvesse mais lugar para a sincera es-colha do amor fértil, do profundo respeito pela outra pessoa.
Herdeiros de uma moda que valoriza o "experimentar" em detrimento do "descobrir", os pré-adolescentes já não separam a brincadeira do beijar e “ficar” escondido, da seriedade do relacionamento fecundo, e isso facilita a falta de carinho entre eles no difícil caminho rumo à sadia afetividade. A mídia, explorando a fabricação de pequenos "adultos" sobre estereótipos e idéias vagas de liberdade, faz deles vítimas perfeitas dessa crescente mania de valorizar a ou-tra pessoa naquilo que ela pode me dar e não no inverso, provocando uma modificação profun-da de comportamento que possivelmente irá desaguar em relacionamentos e matrimônios im-perfeitos. Se hoje eu não valorizo a pessoa com quem fico, usando-a na medida do prazer que ela me possibilita, amanhã, certamente, não irei privilegiar o cônjuge que elegi (muitas vezes em requisitos errados), porque, no passar dos anos, a falta de sensualidade talvez o faça pare-cer decaído aos meus olhos. Porque ninguém mais procura se valorizar como ente dotado da graça da personalidade e da pessoalidade, torna-se difícil encontrar a medida certa nos relacio-namentos, sem o respeito e sem a responsabilidade que eles acarretam.
O professor Felipe Aquino, em texto sobre namoro, ensina, a respeito dos relacionamen-tos de hoje: "É o instinto que comanda, não a razão. Como uma pessoa dessa pode amar, co-mo pode dar-se, renunciar a si mesmo, se o que importa é a satisfação do seu corpo? Quando o corpo impera, a razão enfraquece, o espírito agoniza, e o amor perece". Da valorização do "eu" há o descuido do "tu" e, conseqüentemente, nenhum relacionamento válido se efetiva, pois não há a complementaridade nem a entrega necessárias. O entendimento cristão de amor ao próximo (Lc 10,27) casa bem com esta intenção de amor frutuoso a ser buscado dentro do na-moro. Porque o outro existe e ama, quero eu amá-lo em toda a sua extensão e profundidade para dele absorver o amor que me preenche. Nessa doação, que satisfaz plenamente o outro e, em conseqüência, a si mesmo, esconde-se a fórmula do sadio amor a ser aprendido no seio do namoro. Isso deve ser assimilado por aqueles adolescentes que, imaturos, anseiam por desco-brir o verdadeiro significado das suas relações, para que, no crescimento da caminhada rumo ao amor conjugal, saibam discernir, ainda no âmbito do namoro, a sabedoria e responsabilidade que ele pede.
Em vista disso, não cabe nessa fase de amadurecimento a busca do prazer pelo prazer, em situações de sexo, masturbação, ficadas e outros. Estes momentos, ao invés de cimenta-rem uma sexualidade e afetividade sadias, acabam por minar nossa dignidade de filhos de Deus e fecham nossa vida afetiva na centralização dos nossos desejos, situação de egoísmo que nos faz morrer no pecado e anular a graça do Pai em nós. Por conta disso, essas receitas fáceis de namoro, compradas a preço de pechincha para preencher o nosso vazio pessoal na busca do prazer instantâneo, trazem um preço alto demais a ser pago em riqueza pessoal e intimidade com o próximo e com Deus. Modelando-nos na via fácil do carinho descartável, cor-remos o risco de tornar igualmente descartáveis a nossa dignidade e a beleza que há no namo-ro.
Importante é que, nessa brincadeira que se torna séria pela nossa maturidade afetiva encontrada em Deus, raspemos o "Longe!" para a escolha fácil do amor egoísta e o prazer que insiste em nos desviar do respeito pelo outro e o "Nem pensar!" para as oportunidades de pe-cado que nos levam a desprezar o amor verdadeiro, dado pelo Pai, em nossos corações. Saber namorar (e não ficar) deve ser, para nós, não a evocação vaga da letra da música, mas verda-de de vida colocada em nós pela graça de Cristo.
Por Breno Gomes Furtado Alves
A brincadeira acima pode ser encontrada em certo pacote de salgadinhos disponível em supermercados, ali, logo ao alcance da mão. São duas pequenas cartelas que ensinam o de-senrolar da cantada apenas com uma raspadinha. Comprando, raspando, ficando! Simples as-sim! Cabe a você raspar no lugar certo (quem sabe uma boate, uma festinha de colegial, um cinema...), no momento certo e com a pessoa certa. E, pronto, aprendi a ficar no melhor método "passo a passo", sem nenhuma contra-indicação, sem nenhuma conseqüência desagradável, nada além de azaração. Como todo mundo já sabe namorar, as receitas já vêm prontas e aca-badas, no ponto de experimentar, sem a perspectiva de um mínimo vínculo afetivo, sem a opor-tunidade da autodescoberta e da descoberta do outro em sua imensa riqueza e carisma, de sua integridade e personalidade. A “ficada” de hoje cada vez mais se aparta dos verdadeiros senti-mentos e emoções e se aproxima da frieza das carícias, com o fim único de dar e receber pra-zer. Como se, necessidades sensoriais satisfeitas, não houvesse mais lugar para a sincera es-colha do amor fértil, do profundo respeito pela outra pessoa.
Herdeiros de uma moda que valoriza o "experimentar" em detrimento do "descobrir", os pré-adolescentes já não separam a brincadeira do beijar e “ficar” escondido, da seriedade do relacionamento fecundo, e isso facilita a falta de carinho entre eles no difícil caminho rumo à sadia afetividade. A mídia, explorando a fabricação de pequenos "adultos" sobre estereótipos e idéias vagas de liberdade, faz deles vítimas perfeitas dessa crescente mania de valorizar a ou-tra pessoa naquilo que ela pode me dar e não no inverso, provocando uma modificação profun-da de comportamento que possivelmente irá desaguar em relacionamentos e matrimônios im-perfeitos. Se hoje eu não valorizo a pessoa com quem fico, usando-a na medida do prazer que ela me possibilita, amanhã, certamente, não irei privilegiar o cônjuge que elegi (muitas vezes em requisitos errados), porque, no passar dos anos, a falta de sensualidade talvez o faça pare-cer decaído aos meus olhos. Porque ninguém mais procura se valorizar como ente dotado da graça da personalidade e da pessoalidade, torna-se difícil encontrar a medida certa nos relacio-namentos, sem o respeito e sem a responsabilidade que eles acarretam.
O professor Felipe Aquino, em texto sobre namoro, ensina, a respeito dos relacionamen-tos de hoje: "É o instinto que comanda, não a razão. Como uma pessoa dessa pode amar, co-mo pode dar-se, renunciar a si mesmo, se o que importa é a satisfação do seu corpo? Quando o corpo impera, a razão enfraquece, o espírito agoniza, e o amor perece". Da valorização do "eu" há o descuido do "tu" e, conseqüentemente, nenhum relacionamento válido se efetiva, pois não há a complementaridade nem a entrega necessárias. O entendimento cristão de amor ao próximo (Lc 10,27) casa bem com esta intenção de amor frutuoso a ser buscado dentro do na-moro. Porque o outro existe e ama, quero eu amá-lo em toda a sua extensão e profundidade para dele absorver o amor que me preenche. Nessa doação, que satisfaz plenamente o outro e, em conseqüência, a si mesmo, esconde-se a fórmula do sadio amor a ser aprendido no seio do namoro. Isso deve ser assimilado por aqueles adolescentes que, imaturos, anseiam por desco-brir o verdadeiro significado das suas relações, para que, no crescimento da caminhada rumo ao amor conjugal, saibam discernir, ainda no âmbito do namoro, a sabedoria e responsabilidade que ele pede.
Em vista disso, não cabe nessa fase de amadurecimento a busca do prazer pelo prazer, em situações de sexo, masturbação, ficadas e outros. Estes momentos, ao invés de cimenta-rem uma sexualidade e afetividade sadias, acabam por minar nossa dignidade de filhos de Deus e fecham nossa vida afetiva na centralização dos nossos desejos, situação de egoísmo que nos faz morrer no pecado e anular a graça do Pai em nós. Por conta disso, essas receitas fáceis de namoro, compradas a preço de pechincha para preencher o nosso vazio pessoal na busca do prazer instantâneo, trazem um preço alto demais a ser pago em riqueza pessoal e intimidade com o próximo e com Deus. Modelando-nos na via fácil do carinho descartável, cor-remos o risco de tornar igualmente descartáveis a nossa dignidade e a beleza que há no namo-ro.
Importante é que, nessa brincadeira que se torna séria pela nossa maturidade afetiva encontrada em Deus, raspemos o "Longe!" para a escolha fácil do amor egoísta e o prazer que insiste em nos desviar do respeito pelo outro e o "Nem pensar!" para as oportunidades de pe-cado que nos levam a desprezar o amor verdadeiro, dado pelo Pai, em nossos corações. Saber namorar (e não ficar) deve ser, para nós, não a evocação vaga da letra da música, mas verda-de de vida colocada em nós pela graça de Cristo.
Por Breno Gomes Furtado Alves
terça-feira, 6 de julho de 2010
O casulo e os relacionamentos
“Através da castidade aprendamos a amar a Deus e aos irmãos com amor puro e desinteressado, priorizando sua afeição pelo Senhor, cultivando relacionamentos de amor, fraternidade e amizade, sempre abertos ao amor universal que se deve a todos os homens, em especial aos não amáveis” (ECCSh, 138). (*)
É muito bom e libertador vê o nosso fundador falar de “um amor puro e desinteressado” no exercício do amor aos irmãos. É muito bom vê-lo manifestando a fé de que é possível, a partir da vivência da castidade, viver esses valores dentro dos relacionamentos, desmitificando a idéia errônea de que não é possível viver relacionamentos maduros e construtivos em qualquer um dos estados de vida.
Convenço-me ainda mais de que precisamos de humildade e de confiança em Deus para acolhermos quem realmente somos, fracos, mas amados e sustentados pela graça de Deus. Sim, não somos perfeitos e acabados, e nunca o seremos nesta vida, mas somos pessoas que caminham à luz do amor que dá sentido ao nosso viver. É uma grande graça saber e crer que, embora tenhamos nossas feridas e carências, é possível vivermos a gratuidade do amor de Deus e o respeito um pelo outro, dando provas deste mesmo amor aos nossos irmãos. “Faz parte do plano do Senhor para nos dar relacionamentos novos, maduros, adultos, verdadeiramente fundamentados no Senhor, que os ventos e tempestades não podem derrubar, pois se fundamentam na vontade de Deus e foram já provados pelo fogo” (RVSh 263).
Os relacionamentos humanos se desenvolvem em meio aos desafios, pois não somos anjos e não se aprende a se relacionar somente lendo livros, somente navegando nas comunidades virtuais ou ainda fazendo belos discursos. Os novos relacionamentos só podem ser construídos e amadurecidos na escola da vida, na convivência e na luz do amor de Deus.
Pena é que temos muito medo de nos expor e é mais cômodo ficar nas nossas seguranças do que “se sujeitar a estar sob o olhar e os juízos dos outros”. A convivência é uma escola de autoconhecimento salutar e salvífico quando é Deus o centro. Caso contrário, corremos o risco de vivermos no nosso fechamento. Alegro-me pelo fato de muitas pessoas terem se decidido a trilhar este feliz caminho.
“É anseio do coração do Amado que nos dediquemos a dar provas de amor uns para com os outros. O amor aos irmãos é uma maneira concreta de mostrarmos o quanto amamos o nosso Amado, amando aquele a quem tanto Ele ama e por quem Ele deu a sua própria vida” (ECCSh 228). Os nossos Estatutos dizem ainda que esse amor aos nossos irmãos não pode ser um “amor exclusivo” e que “Cristo é o nosso referencial de todo amor humano”.
Não existe relacionamento sem a convivência. É preciso conviver, deixar-se conhecer, brincar, partilhar, dar prova de amor sem ter medo do que possam pensar de nós. É preciso escolher e estar disposto a correr riscos. O próprio amor infinito de Deus correu todos os riscos por nós ao nos criar livres, capazes de acolher e de rejeitar este amor. Não existe amor sem riscos. Não existe amizade sem riscos”, diz Maria Emmir (Fio de Ouro, p. 208).
A amizade nasce da arte da relação e é portadora de força criativa. Assim diz Maria Emmir: “Os relacionamentos sadios e a amizade autêntica, abrem a pessoa para os outros, para o mundo, para certeza de ser amada, para a segurança de ser digna de amor. Emprestam-lhe novo ânimo na vida. Novo entusiasmo no trabalho, enchem sua vida de sentido, fazem-na voltar para Deus, que é a plenitude da amizade. È preciso ter paciência de orientar e esperar que passem as fases iniciais da amizade… , só depois chegará à fase mais madura, mais realista, até acompanhá-las à fase da prova, da decepção e da amizade mais profunda” (Fio de Ouro, p. 207).
A caridade de Cristo nos faz um com ele e, por isso já não carregamos mais o peso de termos o outro como inimigo. “O outro não é o meu inferno”, como declarou o filósofo Sartre, fazendo referência à questão da liberdade. Cristo nos redimiu de todo pecado e também redimiu o amor que escravo estava dos prazeres carnais. “O amor erótico” (Eros) é também belo, mas quando revestido do “amor agápico”, irradia a sua força que faz sublimar os relacionamentos e todo o Ser.
Sair do casulo é sempre um movimento delicado e até doloroso muitas vezes, mas se feito em Deus, certamente nossa vida viverá relacionamentos novos. A caridade fraterna guiada pela Providência de Deus nos faz perceber também aqueles com quem queremos partilhar mais de perto as nossas dores e alegrias, os nossos segredos, a vida de Deus que vai moldando a nossa. Cristo nos mostrou que é uma necessidade do coração do homem partilhar a vida com os outros e, de forma especial, com alguns mais próximos.
Ajude-nos, Senhor, a sairmos dos nossos casulos, ainda que nos custe muito, nos custe o perder o que é lícito, a renúncia ou ainda aquela experiência de ser exposto diante dos outros, dos irmãos. O verdadeiro amor é aquele que provém da amizade contigo. Dá-nos a graça de sairmos de nossos mundos, traumas e medos para manifestar a vitória do teu amor aos homens, vitória do teu amor também na construção de relacionamentos castos e fecundos . O teu amor renova o sentido da vida e nos disponibiliza para o exercício existencial do amar até o extremo! “Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor… Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,9.13). Para gerar vida é preciso morrer pra si mesmo, é preciso sair do casulo.
(* As citações referentes às Regras de Vida Shalom/RVSh, são encontradas no texto antigo, anterior aos Escritos. Portanto, acessível somente aos membros da Comunidade Católica Shalom) – “Fio de Ouro. Maria Emmir e Dra. Sílvia Lemos, Edições Shalom, Fortaleza/CE.
Antonio Marcos
Consagrado na Comunidade de Vida Shalom
É muito bom e libertador vê o nosso fundador falar de “um amor puro e desinteressado” no exercício do amor aos irmãos. É muito bom vê-lo manifestando a fé de que é possível, a partir da vivência da castidade, viver esses valores dentro dos relacionamentos, desmitificando a idéia errônea de que não é possível viver relacionamentos maduros e construtivos em qualquer um dos estados de vida.
Convenço-me ainda mais de que precisamos de humildade e de confiança em Deus para acolhermos quem realmente somos, fracos, mas amados e sustentados pela graça de Deus. Sim, não somos perfeitos e acabados, e nunca o seremos nesta vida, mas somos pessoas que caminham à luz do amor que dá sentido ao nosso viver. É uma grande graça saber e crer que, embora tenhamos nossas feridas e carências, é possível vivermos a gratuidade do amor de Deus e o respeito um pelo outro, dando provas deste mesmo amor aos nossos irmãos. “Faz parte do plano do Senhor para nos dar relacionamentos novos, maduros, adultos, verdadeiramente fundamentados no Senhor, que os ventos e tempestades não podem derrubar, pois se fundamentam na vontade de Deus e foram já provados pelo fogo” (RVSh 263).
Os relacionamentos humanos se desenvolvem em meio aos desafios, pois não somos anjos e não se aprende a se relacionar somente lendo livros, somente navegando nas comunidades virtuais ou ainda fazendo belos discursos. Os novos relacionamentos só podem ser construídos e amadurecidos na escola da vida, na convivência e na luz do amor de Deus.
Pena é que temos muito medo de nos expor e é mais cômodo ficar nas nossas seguranças do que “se sujeitar a estar sob o olhar e os juízos dos outros”. A convivência é uma escola de autoconhecimento salutar e salvífico quando é Deus o centro. Caso contrário, corremos o risco de vivermos no nosso fechamento. Alegro-me pelo fato de muitas pessoas terem se decidido a trilhar este feliz caminho.
“É anseio do coração do Amado que nos dediquemos a dar provas de amor uns para com os outros. O amor aos irmãos é uma maneira concreta de mostrarmos o quanto amamos o nosso Amado, amando aquele a quem tanto Ele ama e por quem Ele deu a sua própria vida” (ECCSh 228). Os nossos Estatutos dizem ainda que esse amor aos nossos irmãos não pode ser um “amor exclusivo” e que “Cristo é o nosso referencial de todo amor humano”.
Não existe relacionamento sem a convivência. É preciso conviver, deixar-se conhecer, brincar, partilhar, dar prova de amor sem ter medo do que possam pensar de nós. É preciso escolher e estar disposto a correr riscos. O próprio amor infinito de Deus correu todos os riscos por nós ao nos criar livres, capazes de acolher e de rejeitar este amor. Não existe amor sem riscos. Não existe amizade sem riscos”, diz Maria Emmir (Fio de Ouro, p. 208).
A amizade nasce da arte da relação e é portadora de força criativa. Assim diz Maria Emmir: “Os relacionamentos sadios e a amizade autêntica, abrem a pessoa para os outros, para o mundo, para certeza de ser amada, para a segurança de ser digna de amor. Emprestam-lhe novo ânimo na vida. Novo entusiasmo no trabalho, enchem sua vida de sentido, fazem-na voltar para Deus, que é a plenitude da amizade. È preciso ter paciência de orientar e esperar que passem as fases iniciais da amizade… , só depois chegará à fase mais madura, mais realista, até acompanhá-las à fase da prova, da decepção e da amizade mais profunda” (Fio de Ouro, p. 207).
A caridade de Cristo nos faz um com ele e, por isso já não carregamos mais o peso de termos o outro como inimigo. “O outro não é o meu inferno”, como declarou o filósofo Sartre, fazendo referência à questão da liberdade. Cristo nos redimiu de todo pecado e também redimiu o amor que escravo estava dos prazeres carnais. “O amor erótico” (Eros) é também belo, mas quando revestido do “amor agápico”, irradia a sua força que faz sublimar os relacionamentos e todo o Ser.
Sair do casulo é sempre um movimento delicado e até doloroso muitas vezes, mas se feito em Deus, certamente nossa vida viverá relacionamentos novos. A caridade fraterna guiada pela Providência de Deus nos faz perceber também aqueles com quem queremos partilhar mais de perto as nossas dores e alegrias, os nossos segredos, a vida de Deus que vai moldando a nossa. Cristo nos mostrou que é uma necessidade do coração do homem partilhar a vida com os outros e, de forma especial, com alguns mais próximos.
Ajude-nos, Senhor, a sairmos dos nossos casulos, ainda que nos custe muito, nos custe o perder o que é lícito, a renúncia ou ainda aquela experiência de ser exposto diante dos outros, dos irmãos. O verdadeiro amor é aquele que provém da amizade contigo. Dá-nos a graça de sairmos de nossos mundos, traumas e medos para manifestar a vitória do teu amor aos homens, vitória do teu amor também na construção de relacionamentos castos e fecundos . O teu amor renova o sentido da vida e nos disponibiliza para o exercício existencial do amar até o extremo! “Assim como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei em meu amor… Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,9.13). Para gerar vida é preciso morrer pra si mesmo, é preciso sair do casulo.
(* As citações referentes às Regras de Vida Shalom/RVSh, são encontradas no texto antigo, anterior aos Escritos. Portanto, acessível somente aos membros da Comunidade Católica Shalom) – “Fio de Ouro. Maria Emmir e Dra. Sílvia Lemos, Edições Shalom, Fortaleza/CE.
Antonio Marcos
Consagrado na Comunidade de Vida Shalom
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